Qual é o melhor caminho para se definir prioridades? Ampla discussão e diagnóstico das demandas. Seguem-se ainda mais discussões e debates sobre qual o melhor caminho para atendê-las. Definido isto, vem o planejamento, minucioso, do projeto e sua execução. Infelizmente, não é isto que temos visto em nossa Sete Lagoas.
Ao invés de definir as necessidades e demandas da cidade para, a partir daí se fazer projetos e programas para a busca dos recursos necessários ao seu atendimento, aqui se identifica onde existem recursos disponíveis a serem buscados e por eles se faz os projetos para gasta-los. Se nossa cidade e nosso povo precisam deles não vem ao caso. O importante é buscar o dinheiro e gasta-lo, com dividendos políticos \ eleitorais. Não cogito aqui outros e espúrios interesses para o gasto e aproveitamento dos recursos financeiros.
Para exemplificar as afirmações acima, cito a recém propalada maior obra da história da cidade. A captação de água do Rio das Velhas para abastecer Sete Lagoas. Sim, querem que sejamos abastecidos por esgoto reciclado da grande BH.
A questão principal: Sete Lagoas precisa de água de superfície? A resposta é clara: NÃO SABEMOS. Ninguém sabe. Não existe estudo conclusivo de que nosso lençol freático, nossa pura água subterrânea, seja insuficiente. Pré-estudos existentes, ainda que superficiais, foram por nós contratados quando Secretário de Planejamento ainda no início da década de 90. O que se sabe é que o SAAE retira água em poços artesianos de profundidade entre 60 e 120 metros. As indústrias a retiram em poços de até 250 metros. Nosso carst, a camada do sub-solo que contem água vai até 800 metros. Nestas profundidades, o risco de desabamento é nulo. A quantidade de água é que é a grande questão. Temos águas calcárias e não calcárias, como o sistema de Wenceslau Braz, cobiçado pela AMBEV.
Uma certeza: ainda que não mensurada, é água pura suficiente para abastecer a cidade por décadas.
E ai o que faz nossa administração municipal? Sem identificar a demanda e a necessidade, identificou oportunidade de recursos próximos a 30 milhões de reais no PAC para abastecimento de água. Para se obter estes recursos, endividou a cidade em mais de 75.000.000,00 de reais, por 20 anos. A próxima geração inteira é que vai pagar. Vai gastar em contras-partidas de recursos próprios mais 5 milhões de reais. Vão ser gastos no final mais de R$ 110.000.000,00 para se fazer àquilo que NÃO SABEMOS SE PRECISAMOS. Com 1% disto dá pra fazer os estudos que vão confirmar ou não a necessidade.
Na questão do abastecimento de água, sabemos sim é que em Sete Lagoas faltam caixas de água. Sem as caixas de água, nossos poços bombeiam a água diretamente nas redes de distribuição. Com pressão. E ai, não há rede que agüente. Pior, bombeiam 24 horas por dia, senão falta água. O custo da energia, o maior do SAAE, é grande. Tivéssemos as caixas e reservatórios, os poços bombeariam durante a noite, quando a tarifa de energia é mais barata e distribuiriam esta água por gravidade, sem pressão e sem danificar as redes de distribuição, evitando os custos de conserto e os terríveis “buracos do SAAE”.
Com os recursos do PAC, sem o endividamento, faríamos as caixas de água e reservatórios, novas redes. O custeio do SAAE diminuiria. As contas podem até cair. O problema é que não teríamos “a maior obra da história”. E recursos abundantes em período eleitoral.
Esta é a essência do que tem que mudar: definir as demandas e prioridades para buscar os meios e os recursos para atender as necessidades. É bem o contrário do que tem sido feito: fazer projeto para aproveitamento dos recursos disponíveis, sem se levar em conta as demandas e necessidades. Tem que ser revisto. Tem que mudar. Mas mudar sabendo para onde. O debate de idéias levará ao melhor caminho.